quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

De passagem

Eu havia feito um post ontem mesmo, mas desisti de postá-lo: pessoal demais. Aliás, o problema não é nem ser pessoal - todos os posts aqui o serão. O problema é o grau de intimidade a expôr. E como a intenção do blog não é dividir coisas tão íntimas, visto que não tive boas experiências dividindo muito com muitos, resolvi mudar o assunto.

A propósito, passei a me precaver um pouco de uns tempos pra cá. A última medida por colocar cadeadinho nos álbuns, apagar recados e deixar tudo um pouco mais privado. Vocês podem se perguntar: nossa, mas por que você fez isso agora se tem orkut desde 2005?

A limpeza dos recados foi porque deu vontade mesmo. Só que enquanto eu apagava quase 7000 recados, fui dando graças a Deus por tê-lo feito. Fiquei constrangida com alguns recados que troquei de que nem me lembrava. Fiquei constrangida por ter sido idiota nas mãos de algumas pessoas. Fiquei sentida por algum tempo quando vi que muito do sentimento contido em alguns recados simplesmente evaporara. Aparentemente, os recados foram apagados muito depois de coisas mais reais terem sido apagadas. É uma lástima, mas já me disseram que deixamos muito pra trás quando seguimos em frente.

Apaguei também depoimentos, sendo a maioria de pessoas com as quais não tenho o mínimo contato hoje em dia e para as quais nem sei a razão de ter deixado depoimento. Outros apaguei por auto-vergonha.

Por que estou falando isso? Olha, na verdade, o post simplesmente fluiu dessa maneira até agora. Eu ia falar do Ano Novo; eu ia falar da falta de cabimento da minissérie Dalva e Herivelto; eu ia falar de como gosto do mar. Mas, felizmente, tomei outro rumo. Os anos são passageiros; algumas pessoas também o são.

Eu já percebera isso antes, ao longo deste ano que hoje termina. Neste ano, diminuí meu tempo na Internet. De certa maneira, isso foi o bastante para que eu perdesse contato com muitas pessoas de que gostava, pelas quais tinha/tenho muita consideração. Algumas relações, apesar da limitação, permaneceram; outras, se desgastaram. Podem dizer que faz parte, que pessoas vem e vão: eu concordo com isso. E sei que não aconteceu somente comigo.

Na minha vida, muitos 'amigos' desapareceram. Obviamente, sei hoje que não eram amigos. Não, eu nunca tive muitos amigos. Posso dizer que passei a minha vida toda com um ou dois deles. Às vezes, até nenhum. Colegas foram muitos; colegas falsos, mais ainda. O vazio que isso me criou é surpreendente. Não estou me fazendo de coitada, pois sei que muitas vezes o meu jeito e minhas atitudes foram responsáveis por criar esse bloqueio, essa dificuldade em me relacionar, em fazer amizades.

Aprendi que é preciso abrir um pouco mais a cabeça em se tratando de pessoas. Já julguei muita gente por conta de gostos, de atitudes, etc. E eu reclamava horrores quando me julgavam por eu ser mais quieta, gostar menos de sair, gostar mais de estudar. Pois é, eu não era muito diferente daqueles que criticava, não. E foi preciso que eu amadurecesse, sofresse muito, para entender finalmente a razão de minha vida ter tomado esse rumo.

Também estou ciente de que minha carência extrema foi responsável por momentos de ilusão. Perdi a conta de quantas vezes tinha certeza de que uma pessoa era minha amiga porque me pedira um favor ou conversara comigo por 5 segundos. E quantas vezes me entusiasmei ao conhecer alguém que considerava legal! Quantas vezes julguei ter encontrado meu melhor amigo por passar 1h forçando uma conversa com alguém que mais tarde percebia não gostar de mim?

Quanta dor isso gerou, meu Deus do céu? Muita, muita dor. Isso acentuou ainda mais minha dificuldade em me relacionar até eu entender que o problema não era o outro, mas eu mesma. Sei que minhas reclamações sobre meu tédio nas férias são conseqüência desse passado. Sei que não posso fazer o tempo voltar, por mais que agora eu saiba como deveria ter agido. Sei que não posso recuperar pessoas nem situações.

Nem é isso que eu quero. Não quero reviver: quero aprender a viver. Quero que os anos sejam passageiros, mas que pessoas sejam duradouras. Quero ser capaz de me lembrar do que escrevi aqui, hoje, porque nos momentos de fraqueza, tenho a tendência de me focar no problema e entrar em desespero. Quero ser paciente, quero ser forte, quero ser menos egoísta. Quero ser capaz de não causar uma impressão negativa nas pessoas. Quero ser menos chorosa, fazer menos reclamações, ser mais otimista.

Quero, sim, um ano novo em que eu seja capaz de fazer exatamente como Luís de Camões disse:

Jamais haverá um ano novo se continuar a copiar os erros dos anos velhos



Feliz 2010 para todos! E que todos tenham um ano em que aprendam a viver e que sejam felizes!

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Federal? Ok, Cláudia.

Aqui começa provavelmente minha décima tentatia de ter um blog. Sim, eu já tive outros e, não, eles não deram certo. Por que, então, caros possíveis leitores, eu faria outro? Porque tô entediada, porque tô a fim, porque preciso exercitar minha mente ou vou ficar doidinha. Heh.

Obviamente, foi difícil escolher a primeira coisa a postar aqui. Não vou brindar ninguém com meus problemas familiares, com reclamações a respeito do meu jeito de ser, muito menos com tentativas de fazer piada, pois eu não sei fazer. Vou simplesmente tentar compartilhar um pouco do que tem acontecido em minha vida que imagino acontecer na vida de outros.

Bom, um dos maiores orgulhos da minha vida é o de ter conseguido passar no vestibular para uma Universidade Federal com 17 anos, no 3º colegial. Sim, é um orgulho, pois eu sei que muitos ou gostariam de estar no meu lugar ou tentaram estar nele. Pois bem, eu curso Administração, sem dúvida um curso de bastante dificuldade. Foi responsável por prejudicar minha vista, acentuar possíveis problemas cardíacos, fundir meus miolos, me causar situações extremas de desespero e pânico. Quem dera eu pudesse pedir uma indenização por comprometimento irreparável de minha saúde. Mas, além de tudo, foi responsável por me apresentar a pessoas incríveis. Mas, como não sou o Luciano Huck nem a Mallu Magalhães, não vou citar nomes, muito menos puxar o saco de ninguém. Faço administração, não sou promoter nem gosto de jabá.

Mas por que estou falando disso? Ora, eu faço uma faculdade pública por várias razões financeiras: fica na mesma cidade em que moro, não preciso pagar para estudar. Quem dera esta fosse verdade. Pois bem, caros possíveis leitores, é disso que vou falar: da minha ilusão.

Acabei de passar pro terceiro ano do curso, o qual tem 5. Até agora, precisei comprar dois livros, sendo que um foi inútil. Eu poderia ter tirado xerox, mas só fui descobrir isso no dia da prova, quando o professor avisou. Logicamente, todos o encararam com aquela cara de 'Ok, você nos avisa isso hoje, depois que já gastamos R$ 140,00'. O outro foi bastante útil e acredito que passei na matéria em virtude dele. Enfim, algumas semanas atrás, recebi um e-mail do representante de classe. Era uma lista de livro que teríamos que comprar pro terceiro ano. O total? R$ 1300,00. Sim, R$ 1300,00. Pra vocês terem uma idéia, eu ganho isso trabalhando seis meses na monitoria. Isso é o que meu pai recebe em um mês de trabalho, desconsiderando a ajuda da minha mãe e da minha família. Como, meu Deus do céu, eu vou gastar R$ 1300,00 com livros?

Não me entendam mal: eu amo livros. Mas amo principalmente aqueles que cabem em minhas restrições orçamentárias. Um dos meus sonhos é ter uma biblioteca - desde que ela caiba em minhas restrições orçamentárias.

Bom, inicialmente me desesperei. Felizmente, fui repreendida, pois conseguiria dar um jeito. Conversei com a coordenadora de curso e descobri que apenas dois livros daquela lista eram necessários. Ambos estão disponíveis na biblioteca. Teria que comprar outros dois, mas são bem mais baratos e podem ser emprestados de colegas de outros anos.

Esses dois são obrigatórios, por assim dizer, e são obrigatórios em sua versão original. As provas de Finanças e Marketing só são possíveis caso você consulte um livro. E você só pode consultar o livro se ele for original. É louvável que o professor tenha a ética de não permitir pirataria, por assim dizer. Mas não é nada louvável que os livros sejam importados e tão inacessíveis à maioria da sala de aula. E o pior de tudo é a limitação do acervo da biblioteca! Não há um livro para cada estudante, o que piora a situação e cria uma fila de espera. A nossa perspectiva de passar nessas matérias, as quais são as mais importantes do curso, depende de nossa quantidade de dinheiro e não somente do estudo, como deveria. Isso é triste. O nosso esforço só será recompensado se for o esforço de correr atrás do livro, não de estudar. Lamentável.

E adoraria dizer que só acontece isso com livros. Não. Acontece com softwares também. Alguns dos softwares mais legais e mais úteis custam mensalmente R$ 6000,00 e só estão disponíveis num laboratório de 20 lugares que os cursos de Administração e Engenharia da Produção precisam dividir. Alguns professores têm a boa vontade de nos concedê-los, mas não são todos. E aí não temos acesso à tecnologia que tornaria nosso trabalho tão mais simples e tão melhor.

Sabe-se que, hoje em dia, conhecimento é poder. Quem tem conhecimento tem um grande poder nas mãos. É lamentável que esse conhecimento tenha que ficar nas mãos de tão poucos e não nas mãos daqueles que têm a capacidade de melhorar o país.