sábado, 13 de março de 2010

Bodes expiatórios

Recentemente, li o seguinte trecho de notícia:

Senado aprova projeto que prevê gorjeta de 20% em bares e restaurantes.

Bares, restaurantes e similares poderão cobrar gorjeta de 20% sobre contas encerradas à noite, após as 23 horas, caso seja transformado em lei o projeto do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), que recebeu parecer favorável da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal ontem. O projeto, votado em decisão terminativa, foi relatado pelo senador Gim Argello (PTB-DF).

O texto segue agora para a análise da Câmara dos Deputados.

Eu adoro sair para comer fora, principalmente porque eu amo comer (#JuliaChildFeelings). Na maioria das vezes, o garçom não faz nada a não ser trazer o refrigerante, a comida, o cardápio e a conta, além de limpar as mesas antes e depois do cliente se acomodar. Numa rápida consulta a Internet, é possível descobrir que a descrição de cargo de um garçom corresponde justamente aos atos que acabei de citar.

O que gerou essa idéia de dar bônus a alguém que cumpre as funções que deveria cumprir? Qual é o propósito de recompensar alguém que só faz sua obrigação? Quando uma pessoa se torna garçom, ela está plenamente ciente de que deve tratar os clientes com respeito e assisti-los no que for possível. Dessa forma, dizer que a gorjeta é um meio de agradecer por algo que é inerente à profissão é totalmente incabível. Aliás, raramente a gorjeta é repassada ao garçom. Entrega-se o pagamento ao caixa. O que garante que ele consulta todas as notas fiscais e repassa a gorjeta ao garçom? Paga-se, então, a mais provavelmente para compensar a diminuição do preço da refeição.

Ser garçom logicamente não é uma profissão com um salário estrondoso. Mas ser empregada doméstica, gari, faxineira, entre outras, significa também receber um salário mínimo, por exemplo. É uma profissão que está sujeita à mesma legislação trabalhista, aos mesmos direitos e deveres. Deveres estes que incluem desempenhar as funções da descrição de cargo, conforme disse anteriormente. Deveriam todos, então, exigir um bônus salarial?

É claro que não. Não é o caminho. Exigir um aumento do salário mínimo evita que outras profissões permaneçam desvalorizadas e não força o cliente a se responsabilizar por coisas que não dizem respeito a ele. Infelizmente, não será a primeira, nem a última vez que o Governo tentará passar ao cidadão suas obrigações.

Um comentário:

  1. Essa lei me deixa confuso. Eu já fui em um restaurante que me obrigou a pagar a gorjeta. Não foi bem obrigação, só alertou "Se vocês não forem pagar gorjeta, deverão se servir fora do restaurante" Achei um absurdo, mas segui as normas. Apesar disso, eu acho até digno dar uma gorjeta ao garçom. Mas somente a ele! E, é claro, se o mesmo fizer mais do que sua obrigação. Já fui em muito restaurante que o garçom é a gentileza em pessoa, te ajuda no melhor lugar, te serve rápido, e, se achar devido, até conta uma piada. haha, dou gorjeta sem pensar duas vezes. Ao garçom, ao motoboy que trás a pizza, etc. Mas por obrigação... como diria o Souza: Quem obriga a isso é mal carater.

    Hahaha! Falei demais. Só mais uma coisa: Adoro a maneira como escreve. Incrível.

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