sábado, 23 de janeiro de 2010

As Crônicas de Maria Clara



Princesas, príncipes, reis, rainhas, animais falantes e um leão não domesticado num mundo totalmente diferente do nosso. Feiticeiras, dríades, centauros, anões, calormanos, Arquelândia e batalhas. Muitas batalhas. Já sabem do que falo, não? Sim, d'As Crônicas de Nárnia. Este se tornou um dos meus livros favoritos e compete de igual com Harry Potter. Por quê?

Primeiramente, é um livro sem rodeios. As descrições são feitas sem rodeios e detalham o que é essencial à história. É um livro enxuto e que não depende de bengalas narrativas para agradar o leitor. Obviamente, C.S. Lewis fez observações pessoais, mas a sensação que nos provoca é a de um pai ou avô contando uma história ao filho ou neto. Funciona como se uma pessoa narrasse o que observou há muito tempo, mas que foi suficiente para a marcar profundamente. Lembranças que são contadas de modo a transmitir a mesma sensação que o narrador teve ao vivenciá-las.

Em segundo lugar, a história em si é muito simples. As tramas poderiam até ser tidas como clichês, uma vez que envolvem a luta do Bem contra o Mal e todas as tentações nesse meio. Entretanto, por que deveríamos considerar clichê algo a que todos estão sujeitos? Taí algo em que o ser humano peca: essa enorme vontade de classificar e encaixar as situações em algum estereótipo, em algum padrão. Acredito que isso tende a subestimar muito potencial, muita grandeza. Diminui a obra, pois exclui os detalhes e busca um panorama, uma generalização. Isso não dá certo com Nárnia. A história não é clichê: é um lago que aparenta ser raso mas, somente ao mergulharmos, notamos quão profundo se torna.

Ademais, é uma história de fé. Pelo menos foi isso que me provocou. Não digo fé somente no sentido religioso, mas no sentido de confiança, de crença, de otimismo. Obviamente, se nota muita relação com uma história bíblica; não nego que são muitas as semelhanças. Contudo, não enxergo problema nisso. É uma história que ensina que as pessoas são capazes de mudar, por mais ruins que sejam. Ensina a bondade, a gentileza, a recompensa por atos assim caracterizados. Não importa que essa recompensa seja material ou mesmo espiritual. O que importa é que pessoas dispostas a fazerem o bem às outras são confortadas quando necessitam. Entretanto, ainda assim têm ciência de que essas recompensas são limitadas.

Lá, ninguém tem tudo o que quer, não importa o que tenha feito. É preciso suar a camisa, fazer por merecer, realmente correr atrás da felicidade. Ambição, beleza, tudo isso é passageiro. O que fica é o conhecimento obtido ao vivenciar determinadas situações. Aliás, o conhecimento é o bem mais precioso do homem. Não o conhecimento a que estamos familiarizados proveniente da escola. Falo do conhecimento da vida, das experiências, do aprendizado por meio da ação e da convivência.

Sim, também gosto por me identificar com certos personagens. Devo dizer que com aqueles aparentemente menos ilustres, como o Eustáquio: resmungão, pessimista, sozinho, sem amigos. A maior parte da vida eu fui como ele; ainda há vestígios. Fiquei feliz, no entanto, ao descobrir que até ele tomou jeito. Bastou ele enxergar seus defeitos e começar a mudar. Bastou ele crer numa causa maior e perceber que as nossas impressões nem sempre correspondem à realidade. Muitas vezes, escolhemos sofrer. Li hoje o seguinte:
"The primary cause of unhappiness is never the situation but your thoughts about it." — Eckhart Tolle.

Para mim, As Crônicas de Nárnia tem um significado muito especial, principalmente por provocar reflexão e identificação. É um livro infanto-juvenil que me ensinou muito e cujo conteúdo eu pretendo carregar para o resto da minha vida.

Um comentário:

  1. Eu não gosto nem nunca gostei de Nárnia, mas estou numa fase em que repenso muitos valores (odeio musicais e gostei de "Nine". Por isso, li o texto atenciosamente e pegarei o livro emprestado com alguém. Talvez tenha o mesmo efeito em mim. ;)

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